quarta-feira, 3 de maio de 2017

A Festa da Santa Cruz no Brasil e o Descobrimento do Brasil


A Festa da Santa Cruz celebrada no dia “3 de maio” é uma antiga devoção de Portugal, que foi trazida para o Brasil pelos padres jesuítas assim que aportaram no Brasil, mais ou menos em 1554.

 Para facilitar a catequização dos índios os Jesuítas adaptaram a tradicional festa da Santa Cruz de origem portuguesa à cultura indígena, com a inserção da dança indígena: “sarabaque”.

 Os índios guaranis a chamavam de “Festa da Santa Curuzu” e para os tupis “Santa Curuça”.

A devoção a Santa Cruz, cruzeiros e capelas da Santa Cruz, era comum nas fazendas, e em torno delas surgiram povoados que deram origem aos bairros da zona rural.

Segundo estudiosos, a Festa de Santa Cruz no Estado de São Paulo marca o início do ciclo das festas juninas, do início do inverno ou ainda do ciclo de maio europeu. Elementos deste ciclo presentes na Festa são o levantamento do mastro, a fogueira (que já não existe mais), os fogos de artifícios (rojões) e os enfeites das cruzes (1).

A solenidade tradicional da Festa da Santa Cruz consiste na reza do terço e outras orações acompanhadas por cânticos próprios.

 “Os festeiros rezam diante da Santa Cruz, ajoelhados ou não, beijam-na, acendem velas, cantam e dançam em adoração à Santa Cruz.”.

Hoje em dia a Festa da Santa Cruz é celebrada em diversos municípios do Vale do Paraíba, embora de maneiras diferentes, mas em todas elas o ponto alto da festa é a elevação do Mastro em Honra a Santa Cruz.

“Na sua maioria são festas familiares onde se reúnem para rezar, dançar e honrar a "Santa Cruz”.

A Dança da Santa Cruz em Carapicuíba, Embu, Itaquaquecetuba, cidades originárias das vilas jesuíticas, assim como (São José dos Campos) têm traços ameríndio-jesuíticos.

Em 1954 a “dança da Santa Cruz” foi considerada contribuição da cultura índio-jesuítica para a formação do estado de São Paulo, mas hoje em dia ela persiste em poucas localidades.

“Em Eugênio de Melo, distrito de São José dos Campos, foi introduzida logo após a dissolução da epidemia no distrito como agradecimento à graça recebidas. Consistia em uma novena, reza do terço em nove dia, onde cada membro era encarregado da limpeza e enfeite da capela. No último dia, era realizada a festa, com leilões, gincanas, barracas de alimentação e a dança da Santa Cruz.”.

Relato recolhido:
  “Olha eu vinha na Festa de Santa Cruz, hoje não tem mais, e vinha na festa de Santo Antônio também era um grupo que vinha de Martins Guimarães, eles... era uma dança, eles tinham umas toras ocas, como um couro de cabrito, sempre meu pai matava cabrito e já dava prá eles o couro. Eles batiam assim igual índio, em volta da fogueira e dançavam. Então ficavam aqueles caras batendo com aquelas toras e dançavam ali em volta da fogueira.” (2).

Durante minha pesquisa sobre a Festa da Santa Cruz  uma das perguntas que eu fiz aos devotos é se sabiam qual era a origem da Festa da Santa Cruz no dia 3 de Maio. Alguns me responderam da seguinte forma:

- Foi no dia 3 de maio que a Santa Cruz foi “chantada” (fincada) pela primeira vez no Brasil!

Eu estranhei esta resposta, pois segundo os livros de história, a primeira missa no Brasil foi celebrada no dia 26 de abril. Como eu acredito que a “tradição popular” tem sua sabedoria particular, resolvi pesquisar mais a fundo o porque me davam esta resposta.

Para meu espanto, descobri que a resposta que me davam não era tão absurda como a principio me pareceu. Ela era a resposta correta... Mas de outro tempo. O tempo da tradição!

Descobri que até o inicio do século XIX, acreditava-se que fora no dia 3 de maio que a Primeira Missa havia sido celebrada no Brasil.
A suposição se baseava num antigo costume português, o de dar nome de santos ou de “dias santos” as terras por eles descobertas. 
Sabiam que o primeiro nome do Brasil havia sido “Ilha da Vera Cruz” e “Terra da Santa Cruz”, assim eles deduziram que tinha sido neste dia, no dia da “Santa Cruz” que o Brasil havia sido descoberto, ou que a primeira missa havia sido celebrada no Brasil.  

Somente com a descoberta da Carta de Pero Vaz de Caminha que é a “Certidão de Nascimento do Brasil” que a data do descobrimento foi corrigida. Então a tradição estava certa! A Festa da Santa Cruz era o dia do aniversario do descobrimento do Brasil. O dia que “plantaram” a cruz de Cristo em nosso país.

A Tradição oral guardou o costume do passado como uma joia. Um pedacinho do que fora uma verdade...  A mudança nos livros não atingiu a toda a população...  De pai para filho continuou se ensinando que a Cruz havia sido plantada no Brasil no dia 3 de maio...

Somente em 1773, com a descoberta da “Carta de Pero Vaz de Caminha” na Torre do Tombo, em Portugal pelo Sr. José de Seabra da Silva, e sua publicação pela primeira vez no Brasil, pelo padre Manuel Aires de Casal em 1817 que pode se datar com precisão o dia do “Descobrimento do Brasil” e da “Primeira Missa”. (3) 

Então os livros corrigiram a data da primeira missa no Brasil de três de maio para 26 de abril, mas a tradição oral tem seu próprio saber e a devoção e comemoração da Festa da Santa Cruz no dia 3 de maio continuaram através dos anos.

A Festa da Santa Cruz é comemorada em vários países. O fato de no passado acreditarem que o Brasil havia sido descoberto no dia 3 de Maio somente aumentou a devoção a Santa Cruz. Junte a isso a devoção dos Jesuítas e, termos a constelação do “Cruzeiro do Sul” acima de nossas cabeças. A Cruz virou um símbolo do Brasil.

Existe um relato mais recente por mim recolhido: Os imigrantes italianos que vieram para o Brasil no final do século XIX se admiravam quando em alto mar olhavam para o céu e viam o “Cruzeiro do Sul”. Diziam que: o pais que tem a cruz no céu só pode ser um local abençoado.
Este fato com certeza veio reforçar a Festa da Santa Cruz no Brasil, pois ela também existe e é celebrada de forma similar em vários locais na América Latina e na Europa.

Aprofundando em minha pesquisa descobri que a nossa capital Brasília teve sua missa inaugural no dia 3/5/1957 e recebeu do Papa Pio XII o seguinte comentário:

“No dia de aniversário da primeira missa nas terras de Santa Cruz, muito nos agrada que tão fausta data seja recordada com a celebração da primeira missa em Brasília. Pedindo a Deus que continue a derramar sobre a generosa nação brasileira os seus celestes favores, para que progrida e prospere à luz do Evangelho e dos ensinamentos da igreja, concedemos de coração a Vossa Excelência, às autoridades presentes, à sugestiva cerimônia e a todo querido povo brasileiro a nossa especial benção apostólica” – Papa Pio XII.

Este pronunciamento feito em 1957 demonstra que até esta data muitos ainda acreditavam ter sido realizada a primeira missa no Brasil no dia 3 de maio.

Em Minas Gerais esse costume é remanescente do período colonial.

Aqui em São José dos Campos, pesquisando em localidades onde ainda se celebram a Festa da Santa Cruz, não encontrei nenhum traço indígena nas suas danças como a que existe em Carapicuíba e em Embu. Ao contrário, aqui em São José dos Campos é uma Cia de Moçambique que dança em honra a Santa Cruz á frente da Capela. 

Alguns pesquisadores nos dizem que especificamente aqui em São José dos Campos, a tradição se fundiu com as “tradições africanas locais”, ou seja, com os devotos de São Benedito e N. Sra. do Rosário dançando em honra a Santa Cruz, sendo um fato histórico no Estado de São Paulo desde os tempos dos jesuítas os índios dançarem em frente à Igreja do Rosário.  

Descobri também que numa pequena localidade da Sicília - Itália, na cidade de  “Casteltermini”, eles celebram a Festa da Santa Cruz, no dia 3 de maio, com uma dança muito similar ao nosso Moçambique. Esta festa se chama: La Festa di Santa Croce ou Sagra Del Tataratá. (4)  

Em minha opinião, depois de ver a similaridade entre as duas celebrações, percebi que a dança de Moçambique deve ter sido introduzida na Festa da Santa Cruz nos primórdios da sua celebração. Ela deve representar os cristãos defendendo o “Lenho Santo”, melhor dizendo: é o exercito de Heráclio, governador da África defendendo se do exercito de Chosroes II, rei da Pérsia pela posse do “Lenho Sagrado”, ou seja, da Santa Cruz!

Segundo Jacqueline Baumgratz em seu livro “Cultura Popular do Paraíba” ela nos fala que:

“A festa de Santa Cruz costuma reunir diversos grupos e companhias como de Moçambique, de Catira, de São Gonçalo e até baile de arrasta-pé”.

Observei a Festa da Santa Cruz no Pinheirinho do Urbanova durante dois anos: 2012 e 2013. A Festa é celebrada há pelo menos 70 anos pelos familiares do Sr. Zequinha, sua esposa Bela e seus antepassados e esse é um assunto para outro post.

Bibliografia:







outras bibliografias:





http://www.girafamania.com.br/americano/materia_brasilia.html














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