A Festa da Santa Cruz celebrada no dia “3 de maio” é uma antiga
devoção de Portugal, que foi trazida para o Brasil pelos padres jesuítas
assim que aportaram no Brasil, mais ou menos em 1554. Para facilitar a
catequização dos índios os Jesuítas adaptaram a tradicional festa da Santa Cruz
de origem portuguesa, à cultura indígena, com a inserção da dança indígena:
“sarabaque”.
Os índios guaranis a chamavam de “Festa da Santa Curuzu” e
para os tupis “Santa Curuça”.
A devoção a Santa Cruz, cruzeiros e capelas da Santa Cruz, era
comum nas fazendas, e em torno delas surgiram povoados que deram origem aos
bairros da zona rural
Segundo estudiosos, a Festa de Santa Cruz no Estado de São Paulo
marca o início do ciclo das festas juninas, do início do inverno ou ainda do
ciclo de maio europeu. Elementos deste ciclo presentes na Festa são o
levantamento do mastro, a fogueira (que já não existe mais), os fogos de
artifícios (rojões) e os enfeites das cruzes (1)
A solenidade tradicional da Festa da Santa Cruz, consiste na reza
do terço e outras orações acompanhadas por cânticos próprios. “Os festeiros
rezam diante da Santa Cruz, ajoelhados ou não, beijam-na, acendem velas, cantam
e dançam em adoração à Santa Cruz.
Hoje em dia a Festa da Santa Cruz é celebrada em diversos
municípios do Vale do Paraíba, embora de maneiras diferentes, mas em todas elas
o ponto alto da festa é a elevação do Mastro em Honra a Santa Cruz
Na sua maioria são festas familiares
onde se reúnem para rezar, dançar e honrar a "Santa Cruz
A Dança da Santa Cruz em Carapicuíba, Embu, Itaquaquecetuba,
cidades originárias das vilas jesuíticas, assim como (São José dos Campos) têm
traços ameríndio-jesuíticos
Em 1954 a “dança da Santa Cruz” foi considerada contribuição da
cultura índio-jesuítica para a formação do estado de São Paulo.
“Em
Eugênio de Melo, distrito de São José dos Campos, foi introduzida logo
após a dissolução da epidemia no distrito como agradecimento à graças
recebidas. Consistia em uma novena, reza do terço em nove dias, onde cada
membro era encarregado da limpeza e enfeite da capela. No último dia, era
realizada a festa, com leilões, gincanas, barracas de alimentação e a dança de
Santa Cruz:
“Olha, o que vinha na
época, que vinha na Festa de Santa Cruz, hoje não tem mais, e vinha na festa de
Santo Antônio também era um grupo que vinha de Martins Guimarães, eles... era
uma dança, eles tinham umas toras ocas, como um couro de cabrito, sempre meu
pai matava cabrito e já dava prá eles o couro. Eles batiam assim igual índio, em
volta da fogueira e dançavam. Então ficavam aqueles caras batendo com aquelas
toras e dançavam ali em volta da fogueira.” (2)
Durante minha pesquisa sobre a Festa da Santa Cruz uma das
perguntas que eu fazia a eles é se sabiam qual era a origem da Festa da Santa
Cruz no dia 3 de Maio. Alguns deles me responderam da seguinte forma:
- Foi no dia 3 de maio que a Santa Cruz foi “chantada” (fincada)
pela primeira vez no Brasil !
Eu estranhei esta resposta, pois segundo os livros de história, a
primeira missa no Brasil foi celebrada no dia 26 de abril. Como eu acredito que
a “tradição popular” tem sua sabedoria particular, resolvi pesquisar mais
a fundo o porque me davam esta resposta.
Para meu espanto, descobri que a resposta que me davam não era tão
absurda como a principio me pareceu. Ela era a resposta correta... mas de um
outro tempo. O tempo da tradição !
Descobri que até o inicio do século XIX, acreditava-se que fora no
dia 3 de maio que a Primeira Missa havia sido celebrada no Brasil.
Pensavam assim pois o documento que é a “certidão de nascimento” do
Brasil; a “Carta de Pero Vaz de Caminha” havia se perdido e somente
“suposições” definiam a data exata do descobrimento do Brasil. A
suposição se baseava num antigo costume português, o de dar nome de santos ou
de “dias santos” as terras por eles descobertas. Sabiam que o primeiro nome do
Brasil havia sido “Ilha da Vera Cruz” e “Terra da Santa Cruz”, assim eles
deduziram que tinha sido neste dia, no dia da “Santa Cruz” que o Brasil havia
sido descoberto, ou que a primeira missa havia sido celebrada no Brasil enfim,
houve sim, uma época no Brasil, que no dia 3 de Maio, celebra se a “Festa da
Santa Cruz” e a primeira missa em terras brasileiras... ou melhor dizendo, o
dia que a Santa Cruz havia sido fincada em terras brasileiras pela
primeira vez.
A Tradição oral guardou um costume passado assim como um brilhante
incrustado numa joia ela não perde sua beleza com o passar do tempo... nem se
modifica.
Somente em 1773, com a descoberta da “Carta de Pero Vaz de
Caminha” na Torre do Tombo, em Portugal pelo Sr. José de Seabra da Silva, e sua
publicação pela primeira vez no Brasil, pelo padre Manuel Aires de Casal em 1817 que pode
se datar com precisão o dia do “Descobrimento do Brasil” e da “Primeira Missa”.(3) Então os livros corrigiram a
data da primeira missa no Brasil de três de maio para 26 de abril, mas a
tradição oral tem seu próprio saber e a devoção e comemoração da Festa da Santa
Cruz no dia 3 de maio continuaram através dos anos.
Este fato om certeza foi uma coincidência que veio reforçar a
Festa da Santa Cruz no Brasil, pois ela também existe e é celebrada de forma
similar em vários locais na América Latina e na Europa.
Aqui em São José dos Campos, pesquisando em localidades onde ainda
se celebram a Festa da Santa Cruz, não encontrei nenhum traço indígena nas suas
danças como a que existe em Carapicuíba e em Embu. Ao contrário, aqui em São
José dos Campos e uma Cia de Moçambique que dança em honra a Santa Cruz á
frente da Capela. Alguns pesquisadores nos dizem que especificamente aqui em
São José dos Campos, a tradição se fundiu com as “tradições africanas locais”,
ou seja com os devotos de São Benedito e N. Sra. do Rosário dançando em honra a
Santa Cruz, sendo um fato histórico no Estado de São Paulo desde os
tempos dos jesuítas os índios dançarem em frente a Igreja do Rosário.
Segundo Jacqueline Baumgratz em seu livro “Cultura Popular do
Paraíba” ela nos fala que:
“A festa de Santa Cruz costuma reunir diversos grupos e companhias
como de Moçambique, de Catira, de São Gonçalo e até baile de arrasta-pé”.
Observei a Festa da Santa Cruz no Pinheirinho do Urbanova durante
dois anos: 2012 e 2013. A Festa é celebrada há pelo menos 70 anos pelos
familiares do Sr. Zequinha, sua esposa Bela e seus antepassados.
Bibliografia:
outras bibliografias:
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir