O CONTATO
No dia 17/05/2012 maio, fomos eu e Francisco Lacaz Ruiz (Chico Abelha) entrevistar o Sr. “Zéquinha”, morador do bairro “Pinheirinho do Urbanova” que é o responsável pela organização da “Festa da Santa Cruz” que se realiza no local.
O Sr. Zéquinha todos os anos organiza a festa e segundo ele é uma tradição que herdou da mãe e de seu pai e é comemorada pela sua família neste local há pelo menos uns 70 anos.
Tradicionalmente a festa é realizada no dia ”três de maio”, porem neste ano a festa foi realizada no dia 20 de maio.
Conhecer o local foi uma viagem no tempo: uma “Capela da Santa Cruz” á beira do Rio Paraíba; pés de café salpicados de frutos vermelhos, pés de laranjeiras com suas “laranjas docinhas” como “reza” uma tradição do Vale do Paraíba que nos diz que: “laranjas só ficam doces depois da festa da Santa Cruz”. Este costume de marcar as festas pelo tipo de fruto da época era um costume indígena. Os nossos “índios” não conheciam a contagem do tempo e o faziam com a época das frutas.
Para se chegar ao “Pinheiro do Urbanova” deve se entrar no portão anterior a portaria oficial da “Univap” em São José dos Campos e seguir em frente por uns 600 metros em uma pequena estrada de terra. Esta região faz divisa com a cidade de São José dos Campos e Jacareí, e os serviços públicos do bairro são divididos entre as duas cidades.
Após a primeira curva iremos nos deparar com o “Bairrinho do Urbanova” também conhecido como “Pinheirinho do Urbanova”.
No passado (1936) essa região pertenceu ao complexo da fábrica da “Tecelagem Parahyba” e foi conhecido como “Fazenda do Poço” e posteriormente “Fazendinha”. Plantava se arroz, café e criava se gado, mas por sua localização estratégica, a beira do Rio Paraíba do Sul, uma população de pescadores (piraquaras).
Este mesmo local num passado recente foi vitima da extração indiscriminada de “areia” deixando no local as abomináveis e perigosas “cavas de areias”.
Um antigo morador relatou que ainda na década de 70 (1970) a quase totalidade das casas nesta região eram feitas de sapê. O local contava com uma comunidade e diversas Capelas. Atualmente estas capelas já desapareceram e as poucas ainda existentes se encontram em total abandono e uma delas dentro do terreno do Campus da Univap.
Gostaria de salientar que não se deve confundir o “Pinheirinho do Urbanova” com o “Pinheirinho”, ambos em São José dos Campos, sendo que o segundo ficou famoso no Brasil pela retirada polemica de seus moradores dos lotes por eles invadidos.
A caminho da casa do seu Zéquinha eu vi muitas casas na beira do Rio Paraíba e conversando com seus moradores descobrimos que há pelo menos 90 anos o local já era habitado por pescadores ou os “piraquaras” e que no passado comemoravam várias festas, entre elas e a mais famosa era a “Festa da Santa Cruz”.
A Capela da Santa Cruz fica ao lado da casa do Sr. Zequinha e ambas estão nos fundos da Igreja da Univap, ficando entre o Rio Paraíba e a Univap. No local tem se uma visão magnifica de São José dos Campos.
Edirlene, filha do Sr. Zequinha, nos recebeu na frente da casa e nos mostrou a vizinhança. Depois nos levou até o quintal de sua casa onde o Seu Zéquinha se encontrava trabalhando na marcação do “mastro”.
O mastro estava no quintal deitado sobre cavaletes e já estava pintado de branco. Encontramos o seu Zequinha marcando o mastro com largas tiras de papelão. Depois dessa marcação, as faixas são coloridas na seguinte sequencia: branco, amarelo, vermelho, azul e preto.
A bandeira da “Santa Cruz” que seria colocada na ponta do mastro estava sendo pintada por um amigo do Seu Zequinha.
O Pai de Seu Zéquinha, falecido há 32 anos, herdou a tradição de seu avô e ele assumiu a tradição desde a morte do pai.
Tanto o pai como o avô de seu Zequinha eram pescadores nascidos em São José dos Campos. Moravam nesta mesma casa que ele como filho único herdou. Seu pai faleceu no rio Paraíba, em frente a casa onde mora. O “barquinho” em que o pai estava virou. Zéquinha acredita que um barco areeiro que por ali passou, fez ondas que fizeram o barquinho virar. Ele recolheu o corpo do pai perto da ponte que liga o bairro “Urbanova” a cidade.
Ele nos contou que quando seus pais eram vivos eram realizadas muitas festas no bairro. Agora, excetuando as festas oficiais das “Igrejas” do local só existe a “Festa da Santa Cruz” que ele organiza.
Vendo seu neto brincar ao nosso redor perguntei se o neto se interessa pela tradição. Ele me respondeu que “não”. Será? Só o tempo dirá!
Ele também nós contou que antigamente na região existiam mais capelas: São Roque, São Sebastião, Santa Rosa e mais uma ou duas, hoje quase completamente destruídas. Ainda existe uma “Capela de São Sebastião” abandonada que está nas terras do “Parque da Cidade”, local que era a sede da “Tecelagem Parahyba”.
(Em levantamento posterior soube que o Parque da Cidade abriga uma outra capela, a “Capela Jatai” e seu padroeiro é São José).
A Capela de São Roque foi construída pela sua avó materna Brauzina, falecida em 1966. Atualmente esta Capela está em ruinas. Pertence a Univap. Até pouco tempo ainda eram realizadas festas no local, mas agora está em completo abandono. A Univap não permite que entre em seu terreno para realizar a festa e a imagem de São Roque se perdeu. A cruz que a Capela em ruinas ainda ostenta foi seu tio quem fez.
Ele nos contou que existe ainda outra Capela no bairro aonde ocasionalmente o padre da Paroquia Santo Agostinho vem rezar missa e ainda existe a Capela de Santa Luzia que está em construção.
Ocasionalmente ele varre a sua Capela e acende “umas velas”, porém na época do “Seu Carmo” havia novenas e reza todas as semanas.
Nhô Carmo foi um conhecido “capelão” que morava perto da capela, numa casinha na beira do rio. Seus filhos e netos ainda moram na região. A casa de Nhô Carmo fica na beira do rio Paraíba e está fechada desde seu falecimento.
Seu Zéquinha nos contou que no tempo de seu avô a Capela era de sapê e que ele e seu pai a reformaram há 34 anos. Ele nos disse que hoje em dia poucas pessoas vêm para a Festa, a maioria é da sua família. Alguns parentes de sua esposa que são de Caçapava também costumam comparecer.
Perguntamos se alguém “paga” alguma promessa na Capela e ele nos respondeu que raramente mas que de vez em quando alguém traz algumas fitas para amarrar na Santa Cruz! ( Essas fitas são de cetim, coloridas e geralmente o devoto as amarra na cruz após uma graça recebida. Sendo assim se uma cruz tem muitas fitas amarradas nela significa que a Cruz distribuiu muitas graças).
Para esta festa o Seu Zequinha estava esperando a “Cia de Moçambique”, depois eles rezariam o terço e caso alguém trouxesse prendas teria um leilão e por fim um café com pão oferecido por ele.